NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESTE PAÍS

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

2003-2010

Os críticos do governo do presidente Lula dizem que ele age como se tudo tivesse começado em seu governo e nada existisse antes, uma espécie de Cabral do século XXI. O metalúrgico Luiz Inácio foi o primeiro trabalhador a assumir a Presidência de República, depois de três derrotas para seus adversários, Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso. Lula chegou ao poder apoiado no Partido dos Trabalhadores, que ajudou a fundar, e na esperança de milhões de pessoas de que iria pôr em prática as linhas mestras do PT, ou seja, melhoria a condição de vida dos trabalhadores e miseráveis, e imporia uma forma severa e ética de governar, uma vez que sempre classificou os demais políticos de “farinha do mesmo saco”.

Luiz Inácio tinha denunciado os 300 picaretas do Congresso e, quando estava fora do governo, havia sido o grande responsável pelo PT ter se transformado no melhor partido de oposição que este país, digo, o Brasil, já teve em sua história republica. Nada escapava da fiscalização homem a homem dos petistas, os parlamentares do PT eram vistos ao lado da população em toda manifestação  de reivindicação. Temas como “Fora, FMI’’, “Fora, FHC, “Não ao Pagamento da Dívida Externa”, “Reforma Agrária, Já”   eram bordões repetidos à exaustão e com grande apoio popular. A esperança era com Lula e o PT tudo seria diferente.

Nada de conchavos, corrupção, mensalão, aliança com os ruralistas e outros reacionários – enfim, uma mudança ética pregada pelo partido em seus mais de 20 anos de exstência. O PT pode errar, mas não vai cometer os erros que os outros fizeram, diziam os mais abnegados. A eleição de Lula para a presidência, seguida de uma grande festa popular, tirou o grupo político do parlamento e dos movimentos sociais e colocou-os no centro do poder político do país. Agora era só pôr em execução o programa urdido em duas décadas.

“Eu nunca fui esquerdista”, este é um dos paradoxos de um governo que foi eleito como sendo de esquerda e que deu uma guinada em direção ao centro. A frase de Lula, dita por ele e repetida por um grande empresário, mostra o namoro entre o “governo de esquerda” e os grandes conglomerados econômicos. Foi no governo do líder inconteste do Partido dos Trabalhadores que os brasileiros em geral perderam a vergonha de praticar o capitalismo.

Uma virada, para quem esperava que o governo se espelhasse nos modelos socialistas do mundo. Uma das propostas era a reprivatizarão de empresas estatais vendidas no governo de Fernando Henrique, entre elas a Vale do Rio Doce, uma  das maiores mineradoras do mundo.

Os preceitos neoliberais exorcizados no governo anterior foram adotados no silêncio- e com outros nomes. Troca mesmo, só de rótulos.

Na gestão Lula, o Brasil consolidou sua inserção nos quadros do globalismo e no jogo capitalista internacional. O que foi plantado no governo de FHC brotou e cresceu nos dois mandatos de Lula. A vitória indiscutível de Lula sobre José Serra, ex-ministro de FHC, mostrou que o povo queria mudanças e confiava que a vida seria melhor se o metalúrgico de São Bernardo governasse o Brasil. Síndrome de salvador da Pátria. A história de Lula e de sua família foi contada no mundo inteiro como exemplo de exclusão, sofrimento, desigualdade e concentração de renda no Brasil. Lula foi de retirante nordestino a maior líder sindical da história do país e, também graças a sua dedicação e tenacidade, eleito o primeiro operário presidente. A sequencia  de presidentes da elite, seja ela industrial, fazendeira ou intelectual, foi interrompida por um homem sem um dos dedos da mão, perdido em um torno, exibindo um português popular, com erros que deixavam os puristas da língua eriçados, mas que era o espelho da maioria do país. Lula era a cara do brasileiro. Quando chegou ao poder, os fundamentos da economia estremeceram, já  que se imaginava que o novo governo iria aplicar os preceitos que o PT e seus aliados de esquerda pregavam por mais de duas décadas. Ocorreu o “efeito Lula”. O risco país explodiu, a inflação ameaçava voltar, a taxa de juros subiu e com ela aumentou drasticamente a dívida pública, uma herança do governo FHC. Nos primeiros meses de governo havia uma expectativa de como o novo governo agiria, com um primeiro escalão formado de líderes da esquerda.  Lula formou ministério ( depois de muuuita demora ) com seus antigos camaradas, alguns aliados, mas para espanto geral os postos-chaves foram entregues a políticos conservadores. O Banco Central ficou nas mãos do banqueiro tucano Henrique Meirelles, que surgia como um fiador do novo governo junto aos investidores internacionais, e mesmo com a oposição do PT ganhou tal autonomia a que equivalia a um Banco Central independente, como nos Estados Unidos e na Europa. Para impedir que Meirelles fosse processado na justiça comum, Lula deu a ele o status de ministro. Impensável em tempos heroicos de esquerda. Começava a ficar clara a diferença entre projeto de governo e projeto de poder. Os ministérios responsáveis pelo crescimento econômico, Agricultura e Comércio, também foram ocupados por ex-adeptos do tucanismo. A Fazenda foi assumida por Antônio Palocci, um ex- militante da esquerda, mas que tinha estado presente em todas as negociações com banqueiros que geraram a famosa Carta aos Brasileiros- das quais, conta-se, entrou como pouco mais do que um compilador de atas e saiu como escolhido para a pasta.

Lula, Meirelles e Palocci formaram o trio de ferro da economia do governo e optaram por manter e até mesmo aprofundar a política econômica de FHC.

Para tirar o Brasil do atoleiro do efeito Lula, o governo impôs medidas amargas. Adotou na íntegra a recomendação do antes odiado FMI (Fundo Monetário Internacional), aumentando o superávit primário. A dívida pública chegou a 61% do PIB (Produto Interno Bruto). Imediatamente houve cortes nos investimentos e a Saúde perdeu 12%, a infra-estrutura, 40%. Mesmo com a arrecadação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), o bendito imposto sobre cheque, os recursos eram destinados para fazer o superávit e pagar a dívida interna, pondo dinheiro nas mãos dos banqueiros. Nunca antes os bancos ganharam tanto dinheiro como no governo de esquerda. Mais um dos paradoxos. O Banco Central subiu a taxa de juros em 25,5% ao ano, a segunda mais alta do mundo, só perdendo para a Turquia – fórmula encontrada para manter o fluxo de investimentos. Os investidores  pegavam emprestado no mercado mundial a 4% e emprestavam no Brasil a 25,5%!!! Nunca antes se ganhou tanto. O remédio fez efeito e a inflação do início do governo foi contida, caindo nos anos seguintes. Em 2006 foi de 3%. Todos respiraram com alívio. Os investimentos internacionais voltaram aos poucos e em 2007, ano de ventos mundiais mais do que favoráveis, bateram o recorde, com US$ 34 bilhões.

O governo Lula teve sorte com o mercado internacional. As commodities como soja, carne, minério de ferro, celulose e outras subiram de preço e puxaram o crescimento do PIB, ainda que de maneira humilde: 1% em 2003, 3,7% em 2006 e 5,3% em 2007. Mas, mesmo com crescimento, o Brasil ficou abaixo da média mundial e até mesmo da latino-americana. O “espetáculo do crescimento” prometido pelo presidente em 2003 nunca se concretizou.

Um governo de oito anos no total, na verdade, é um único governo com um plebiscito no meio: é mais ou menos assim que funciona a reeleição. Isso valeu tanto para Lula como para FHC. O governo do sindicalista teve que lutar contra o aumento do desemprego, e graças a novo aquecimento da economia global houve uma reversão de 11% em 2003, fechou o ano com 7,12% em dezembro e uma média de 9,3%. Uma vitória, sem dúvida. O presidente havia prometido dobrar o poder aquisitivo do salário mínimo. O que não aconteceu no primeiro governo. Mas em 2008 ele vale R$ 380,00 ou US$ 200,00. Outra conquista, ainda que essa constatação tenha sido favorecida pela valorização exagerada do Real perante o dólar. Por anos e anos os parlamentares do PT lutaram no Congresso por um salário de cem dólares: mas foram o mercado, as commodities, o aquecimento da economia global os responsáveis pelos ganhos, amparados pelas correções feitas pelo governo acima da inflação, ou seja, com ganho real. Isso  se estendeu aos aposentados de Previdência Social e alavancou o consumo das classes mais baixas da população brasileira, que tinha um percentual muito grande vivendo abaixo da linha de pobreza.

É verdade que o mesmo ganho não se estendeu a outros aposentados que ganhavam acima do mínimo.

 Faixa Cronológica período Lula

2004

JANEIRO –   governo anuncia que gastará US$ 56,7 milhões na compra do novo avião para o presidente Lula.
FEVEREIRO explode o escândalo Waldomiro Diniz, primeiro da gestão Lula; governo barra a CPI dos Bingos no Congresso.
MARÇO – governo barra a CPI de Santo André, para investigar a morte do ex-prefeito Celso Daniel.
JUNHO   morre Leonel Brizola.

JULHO – o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, é envolvido no escândalo dos R$ 70 mil de arrecadação de fundos para o PT.

AGOSTO – o governo envia ao Congresso Nacional projeto de lei que cria o Conselho Federal de Jornalismo.

SETEMBRO a PF (Polícia Federal) executa a ”Operação Vampiro” no Ministério da Saúde.

OUTUBRO o marqueteiro Duda Mendonça é preso em rinha de galos no Rio de Janeiro; FGV divulga a existência de 47 milhões de brasileiros vivendo na miséria.

NOVEMBRO – a Telemar injeta R$ 5 milhões na Gamecorp, do filho do presidente Lula; a GCU ( Controladoria-Geral da União) encaminha ofício alertando o então ministro Humberto Costa sobre a existência de uma “quadrilha operando em âmbito nacional” para desviar dinheiro público destinado à compra de ambulâncias; são divulgados os números dos gastos com o Cartão Corporativo em 2003: R$ 125 milhões.


DENÚNCIAS E ESCÂNDALOS

Diga-me com quem andas… Waldomiro Diniz, o subchefe da Casa Civil no primeiro governo Lula, ligado ao ainda ministro José Dirceu (os dois tinham até morados juntos), foi a estrela da primeira denúncia que abalou o governo petista. Na série que maldosamente muita gente chamou de “balança mas não cai”. Em 2004, era divulgada uma fita de vídeo em que o assessor para assuntos parlamentares da Presidência da República negociava o favorecimento em concorrências públicas. Com bicheiros. Em troca de contribuições para campanhas eleitorais. Do PT e do PSB. Foi acusado de ter influenciado na renovação de contratos entre a Caixa Econômica Federal e a empresa Gtech, gerenciadora de loterias federais. Com direito a CPI. Teve de tudo: denúncias de todo tipo, declaração de chantagem, um emaranhado de gente que ia de bicheiros a tesoureiro de campanha(Paulo W. Pereira, encarregado pelo caixa da campanha do petista Geraldo Magela em 2002 e que depois trabalhou no gabinete de Aloizio Mercadante), deputado-bispo, jornalista, bingueiro. O assunto não cheirava a flores.

O ex-presidente da Loterj, subchefe do todo-poderoso José Dirseu, caiu.

A CPI DOS CORREIOS

O caso é levado ao Conselho de Ética da Câmara, no qual Roberto Jefferson confirma as acusações. Em 9 de junho de 2005, instala-se uma CPI para investigar o caso. A quebra do sigilo bancário de Marcos Valério revela a lista de sacadores do esquema. Entre eles, parlamentares e assessores. O escândalo atinge deputados do PL, do PP e vários do PT, como o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha.

 

 

What do you want to do ?

New mail

What do you want to do ?

New mail