EFERVESCÊNCIA POLÍTICA
Até este sábado, a semana teve três eventos político-partidário-eleitorais fortes e marcantes, porque envolveram atores que estarão na boca de cena disputando o protagonismo. Na quinta-feira à noite, a filiação do secretário municipal de Limpeza Pública Sabá Reis ao Avante, partido do prefeito da capital amazonense, e o lançamento da pré-candidatura do ex-(tri)prefeito Arthur Neto (PSDB) ao Senado; ontem, a filiação pública do governador Wilson Lima ao União, que é a sigla oficial do partido União Brasil no TSE – Tribunal Superior Eleitoral. E cada um desses eventos disse muito sobre possíveis cenários para as eleições 2022 no Amazonas, no que se refere às disputas majoritárias, para o Governo do Estado e o Senado Federal.
E disse muito especialmente sobre alguém que, como ele próprio afirma, não estará entre os concorrentes, mas que terá papel de destaque e decisivo no processo: David Antônio Abisai Pereira de Almeida, cuja composição do nome remete a dois personagens bíblicos, que são o próprio David (guerreiro e posteriormente rei) e Abisai, irmão de Joabe e Asael, filho de Zeruia (irmã ou meia-irmã) de David, segundo a salvadora Wikipédia (a enciclopédia livre), a qual também nos diz que esse nome possivelmente significa “pai existe” ou “pai é”.
DEMONSTRAÇÃO DE FORÇA
O evento de Sabá Reis foi, como diria Faustão, “coisa de loco, ô meu!”. Realizado no Olímpico Clube, já no final tarde mostrou que seria pauleira provocando engarrafamentos na confluência das avenidas Senador Álvaro Maia (antigo boulevard Amazonas) e Constantino Nery, porque o acesso ao local fica logo no início do principal corredor para a zona centro-oeste. Caravanas de apoiadores de todas as partes da cidade, o secretariado municipal em peso, o presidente nacional do Avante, Luiz Tibé e David Almeida lustraram a imagem de Sabá Reis como o “ungido” do grupo que o prefeito vem estruturando para a disputa majoritária, seja como candidato a vice-governador na chapa de Wilson Lima (União), seja como cabeça de chapa mesmo, o que tem muita chance de acontecer.
DAVID (AINDA) FORA DA DISPUTA
Sim. Ao falar, David Almeida descartou em “definitivo” (se é que em política, tirando um evento fúnebre, pode-se usar esse termo com total segurança) a renúncia ao atual cargo para uma candidatura ao Governo do Estado, mas tanto não selou qualquer aliança com outro candidato quanto disse que o Avante pode ter seu próprio nome nesse game. E aí botou não um balde, mas um tanque cheio d’água para quem achar por bem deixar as barbas de molho daqui por diante e até o último minuto da última hora do último dia de prazo para o registro das atas das convenções partidárias que homologarão as candidaturas a todos os cargos a serem disputados neste ano. E deu o nó. Tente desatar quem for bom marinheiro.
UM MOTE PARA USAR
Aliás, caso candidato a governador, Sabá Reis pode até brincar com suas origens políticas e com a sigla partidária de um dos adversários, adotando um bordão tipo “o candidato do verdadeiro União”. É que Reis vem da militância em movimentos sociais comunitários e foi um dos fundadores do bairro União (zona centro-sul), que nasceu a partir de invasões. Foi dali que partiu para o primeiro de vários mandatos de vereador na Câmara Municipal de Manaus.
URSÃO CARINHOSO
Incensado em todos os discursos, Sabá Reis naturalmente foi porque a festa era para ele, mas merece destaque a longa e carinhosa fala do secretário municipal de Agricultura, Abastecimento, Centro e Comércio Informal Renato Frota Magalhães, conhecido como Renato Júnior. Espécie de dupla dinâmica da administração municipal, os dois secretários agitaram bastante a cidade com as ações de suas respectivas pastas nesses 15 meses, às vezes isoladamente, às vezes em conjunto. E com isso, naturalmente, não só arrancaram muitos elogios públicos de David Almeida como se colocaram como nomes à disposição do prefeito para indicações futuras. E no evento, Renato Júnior mostrou que está com o amigo para o que der e vier. Só causou certa apreensão quando finalizou tacando um fortíssimo abraço, porque enquanto Sabá é miudinho, o cabra é bem parrudão.
CAPIM NA PALHETA?
A secretária municipal Shádia Fraxe, muito elogiada por David pela eficiência e consistência do trabalho à frente da Saúde e por isso mesmo listada entre os nomes que ele poderia indicar à composição de uma chapa majoritária, não esteve no evento. Nem o esposo dela, deputado estadual Abdala Fraxe (Podemos). Sintomáticas essas ausências? “Mistééério”, como diria Dona Milú, personagem da atriz Myriam Pires na novela Tieta, de 1989. E mais misterioso ficou tudo no sábado de manhã quando Abdala, que não esteve num, esteve noutro, no caso o evento do governador Wilson Lima.
ROTTA DE COLISÃO?
Outro que não deu o ar da graça na quinta-feira à noite, no Olímpico Clube, foi o (bi)vice-prefeito Marcos Rotta (Avante), que na gestão 2017/2020 foi vice de Arthur Neto (PSDB) e daí saiu para compor chapa vencedora com David Almeida, tornando-se assim o sucessor dele mesmo em gestões diferentes. Uma ausência que pode ser vista como demonstração de descontentamento porque sempre esteve entre os possíveis indicados à disputa pelo cargo de governador, mas que pode também ser somente uma manobra diversionista enquanto está longe, muito longe, o prazo para as convenções partidárias. E Rotta tem sido, ao menos até onde se vê, um vice-prefeito da maior discrição possível, não tendo criado qualquer problema ou embaraço ao titular, como é comum acontecer com vices em todas as esferas de governo. Que o digam o atual vice-governador Carlos Almeida e o também atual vice-presidente Hamilton Mourão.
OS CURINGAS SÃO OUTROS, SUMANO
No momento em que está, com imagem altamente positiva ante os manauaras, David Almeida é o verdadeiro curinga da eleição para governador deste ano. Quer queiram, quer não, terá influência capital no processo, seja como protagonista, seja como sustentáculo de uma candidatura. E se David tem um curinga para chamar de seu, um nome multiuso com o qual pode fazer várias jogadas, este é Marcos Rotta, o vice discreto. Quem viver, verá.
ENTRELINHAS SEMPRE DIZEM MUITO
David já declarou publicamente o quanto valoriza as pesquisas e que, nos próximos dias, ficará ainda mais ligado nelas, que juntamente com muitas conversas pesarão na definição do rumo que dará a seu grupo político. Conversas que, por sinal, começaram na sexta-feira, 26, com o senador e pré-candidato a governador Eduardo Braga (MDB) e seguirão com outros atores de peso no contexto. E se nas conversas ninguém o convencer de que merece seu apoio? E se as pesquisas indicarem que deve renunciar à Prefeitura porque o Governo do Estado o chama?
Entre o povo do interior, principalmente do sul, há um dito muito popular: “Cavalo encilhado não passa duas vezes.” Daí que…
CADEIRA DE BALANÇO
David reununciando, Marcos Rotta será prefeito por mais de meio mandato e poderá, outra vez, suceder a si mesmo se disputar a reeleição em 2024 e sair vitorioso.
David não renunciando e ficando prefeito, Rotta seguirá vice-prefeito e com várias alternativas: ser o indicado para compor chapa majoritária como vice (mais uma vez), ser lançado ao Senado, onde nunca esteve, ser lançado à Camara Federal, onde já esteve, ser lançado à Assembleia Legislativa (onde já esteve) e com a perspectiva de chegar à presidência da Casa, ou nem sair candidato a nada. Alguém, entre os atuais atores políticos, poderia estar numa situação mais confortável, como possível sujeito de tantos enredos?
TUCANOS EM POLVOROSA
Foi de grande agitação a noite de quinta-feira também na casa de eventos Jevian, no Vieiralves, onde o ex-(tri)prefeito Arthur Neto lançou sua pré-candidatura ao Senado. Não foi uma festa popular mas teve pompa e circunstância, com a militância tucana dizendo presente, muita mídia e até torcidas organizadas. Estrela do evento, o velho tucano dominou a cena do começo ao fim e mostrou que ainda tem um discurso bem afiado e está pronto para os embates da campanha. Com adversários, ex-amigos e quem mais precisar, pelo visto.
DOIS BICUDOS NÃO SE BEIJAM
A ausência de Plínio Valério e as referências explícitas e implícitas que rechearam o discurso de Arthur deixaram claro que a amizade trincou de vez. O ninho tucano ficou pequeno para os dois e o caminho do atual senador deve ser mesmo em direção a outra sigla que lhe assegure a candidatura ao Governo do Estado. É claro que, não sendo candidato, Plínio pode ficar no partido até como estratégia para incomodar Arthur. Tipo espinha na garganta.
TUDO DOMINADO
No evento ficou demonstrado, ainda, que a federação PSDB/Cidadania está firme e forte no Amazonas. Elcy Monteiro Barroso Junior, presidente estadual da legenda, e Wilker Barreto, deputado estadual recém-filiado, fizeram discursos efusivos atestando a parceria e a unidade em torno da candidatura de Arthur. Falou-se muito de chapa completa, densa e competitiva, porém nada sobre o ingresso (ou não) do ex-(tetra)governador Amazonino Mendes, que segue sem um partido para chamar de seu nessas eleições.
MÁQUINA MORTÍFERA 1
É o que está montando o governador Wilson Lima (União) para buscar a reeleição em 2022. Na festa organizada para sua filiação pública (a filiação oficial aconteceu dia 9 passado, em Brasília) ao novo partido, na quadra da escola de samba Mocidade Independente de Aparecida, cujo palco ficou pequeno para a quantidade de deputados federais e estaduais, vereadores de Manaus e prefeitos, alguns dos quais, além de manifestar apoio a ele, foram assinar as fichas de filiação à legenda.
MÁQUINA MORTÍFERA 2
O aparato de combate eleitoral que Lima vem montando é “discunforme” e tem, sim, capacidade de alavancar sua candidatura à reeleição se for a campo, porque envolve lideranças políticas (com e sem mandatos) de todos os quadrantes do Estado, políticos testados e retestados nas urnas e daí por diante. Isso, mais a máquina administrativa estadual, já confere um poderio imenso. E se o grupo do prefeito David Almeida entrar no bolo o negócio ficará sinistro para os adversários.
MÁQUINA MORTÍFERA 3
O fundo eleitoral a que o União terá direito, por seu tamanho na Câmara Federal, tem importância, porém não significa dinheiro a rodo como muitos pensam para a candidatura de Wilson Lima, porque há uma coisa chamada teto de gastos, que o TSE – Tribunal Superior Eleitoral estabelece e que não pode ser ultrapassado. Ou seja, a dinheirama no cofre do partido é uma coisa, o limite a ser liberado para cada candidato é outra. As moedas mais fortes, nesse caso, são o tempo para as propagandas eleitorais gratuitas no rádio e na televisão, e a capilaridade social da rede gerada pela fusão DEM/PSL.
MÁQUINA PESADA 1
Como tudo na vida tem bônus e ônus, a montagem de um grupo político-eleitoral tão grande e reunindo tantos interesses traz seus riscos, a começar pelo esforço monstruoso a ser exigido para manutenção dessa máquina em movimento. São muitos vagões cheios de gente para uma locomotiva puxar durante muito tempo, afinal o que termina no dia 2 de abril é apenas o prazo para que os pretensos candidatos aos cargos de presidente/vice, governador/vice, senador, deputado federal e deputado estadual estejam regularmente filiados a um partido, pois o tempo mínimo de domicílio eleitoral é de seis meses antecedentes ao dia do primeiro turno, que em 2022 será em 2 de outubro.
MÁQUINA PESADA 2
O tempo para essa composição chegar ao segundo marco essencial do calendário eleitoral, que é o dia 5 de agosto, prazo final para a realização das convenções partidárias, é de quatro meses e alguns dias, permeados diuturnamente por barganhas, cobranças, crises, conflitos de interesses, brigas por espaços e protagonismos etc, etc, etc. Certamente haverá momentos de muita saudade da época em que eram só uma locomotivazinha a vapor e alguns poucos vagões de carvão e outros de passageiros e cargas. Com a palavra o tempo que, dizem, é o senhor da razão.
CUIDADO! PRODUTO ALTAMENTE INFLAMÁVEL!
É o aviso que devem estar providenciando os assessores de Jair Bolsonaro para que não aproximem sequer uma fagulha dele, pois o risco é enorme depois que disse colocar a cara no fogo pela idoneidade do sinistro da Educação, pastor Milton Ribeiro, pilhado em barganhas nada republicanas envolvendo recursos do MEC – Ministério da Educação, colocados à disposição de prefeitos desde que providenciado um “faz-me rir” a pastores credenciados por ninguém menos que o 001 da República.
TUDO QUE DISSER...
E mesmo sendo alvo de fiscalização do TCU – Tribunal de Contas da União, que quer conhecer os (tortuosos) caminhos trilhados pelos recursos financeiros da educação, começando por quem libera e terminando por onde chegou, assim como de inquérito a ser aberto pela Polícia Federal a pedido da PGR – Procuradoria Geral da União ao STF – Supremo Tribunal Federal, Milton Ribeiro continua se agarrando desesperadamente a um cargo que, até para os mentores religiosos de Bolsonaro, tipo Silas Malafaia, já não o comporta mais em razão dos estragos que esse escândalo vem causando à imagem dos evangélicos.
Osmir Medeiros
Colunista d’o Ralho, foi editor de economia Jornal Amazonas Em Tempo e editor de Opinião Jornal do Commercio, entre outros veículos.E-MAIL: osmirmedeiros@gmail.com