O QUE ROLA NA POLÍTICA

CINE PLANALTINO APRESENTA:
A versão bozozóica do filme “A morte e a morte da Zona Franca de Manaus”, que entrou em cartaz por esses dias, só tem mocinho. A estrela, naturalmente, é o próprio, o cara, o senhor de todas as canetadas, o mestre dos decretos, aquele-que-manda-e-desmanda, o Capitão Farofa. “Cuma?”, perguntaria Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo, o trapalhão Didi, espantado ante um enredo surreal até para ele, acostumado à surrealidade das incontáveis e impagáveis trapalhadas com que fez os brasileiros caírem nas gargalhadas por décadas. E completaria: “Mas não foi ele quem atirou primeiro no coração dessa donzela?”

COADJUVANTES
“Elementar, meu caro Didi”, responderia alguém à moda sherlockiana e com um leve todo de Chaves, “foi sem querer querendo, para poder salvar depois, junto com os outros heróis salvadores das zonas francas em perigo.” E aí, diante de um Didi cada vez mais baratinado, saltariam com suas capas e espadas e máscaras mascaradas o Dancing Man, o Coronel Cabeleira e Mister Buchada, exclamando: “Achoooouuuu!!!!!

NÃO VAI DAR CERTO!
É o que diria Uruca, o azarado amigo de Pedrita e Bam Bam, filhos dos casais Fred/Vilma e Barney/Beth no antológico desenho animado The Flintstones, dos estúdios Hanna-Barbera. E com toda a razão, porque há dois problemas graves nesse enredo: o primeiro, que é ruim apenas para os autores e mocinhos, é a falta de originalidade que conduz à falta de credibilidade, pois é mais manjado do que decisão de VAR em jogos que envolvem um certo time bem conhecido; o segundo é que, independente do resultado dessa patacoada política com objetivos eleitorais, a Zona Franca de Manaus sairá perdendo de qualquer jeito porque, mesmo sobrevivendo, já é vítima de um clima de insegurança jurídica absolutamente desastroso, que só afugentará quem pensava trazer investimentos para o modelo.

MUNDO, ESTRANHO MUNDO
A “esperteza” da manobra, de negar a existência de todo mundo que se levantou de imediato contra o decreto da morte da ZFM publicado em plena sexta-feira de carnaval, para dar ouvidos apenas e tão somente a Dancing Man, Coronel Cabeleira e Mister Buchada mais de 10 dias após o impacto do meteoro seria cômica, se não fosse ridícula mesmo. E fazer de conta que não existem o prefeito e a Câmara de Vereadores da maior capital do norte do País, três senadores da República, oito deputados federais, A Assembleia Legislativa do Estado, dezenas de especialistas em economia e tributos, instituições governamentais e não-governamentais e várias entidades representativas da indústria, comércio e serviços é no mínimo desrespeitoso e deselegante.

SALVAREI VOCÊ DE MIM MESMO
Eis um título que pode ser aproveitado pelos organizadores do espetáculo de salvação da ZFM que se anunciava para o dia 18 próximo quando, em Manaus, diz-que seria assinado novo decreto desdizendo o que foi dito e refazendo o que foi feito porque o que aconteceu não era para acontecer, embora possa perfeitamente acontecer daqui a pouco, quem sabe após outubro, quando o dia das crianças terá passado e estará na hora de tomar os pirulitos. Anunciava-se porque houve um “conflito de agendas” que jogou o espetáculo para dia incerto e não sabido. É aguardar. Enquanto isso o cilindro de gás da donzela ZFM, que a essa altura dos fatos respira por aparelhos, vai se esvaziando.

VÁ LEVANDO ESSA PERNADA
Enquanto as cenas do filme “A morte e a morte da Zona Franca de Manaus” eram gravadas no Planalto, também se acertava uma mexida importante no tabuleiro partidário: o ingresso do atual governador Wilson Lima no PUB – Partido União Brasil, a supersigla resultante da fusão do DEM – Partido Democratas com o PSL – Partido Social Liberal, ambos da base bolsonarista. Com a filiação, de uma só tacada Lima trocou seu minúsculo PSC – Partido Social Cristão por um gigante com muito dinheiro e tempo na propaganda eleitoral gratuita no rádio e televisão, e fechou uma porta ao seu até agora principal adversário, o ex-(tetra)governador Amazonino Mendes.

E MAIS ESSA TAMBÉM
Outra jogada importante se desenhou no início da tarde de sexta-feira, com o anúncio da candidatura do senador Plínio Valério ao Governo do Estado pelo PSDB, seu atual partido. Isso, para Amazonino, seria mais um fator complicador porque uma de suas melhores alternativas ao PUB seria justamente essa sigla ou o Cidadania, com o qual formará federação. Seria, porque o anzol mostrou ter mais voltas do que o comum.

 

NÃO CONTAVAM COM MINHA ASTÚCIA
Eis que, quando a plateia ainda estava atônita, a vingança do Negão chegou a galope. Ou melhor, voando nas asas do tucano-mor amazonense, o ex-(tri)prefeito Arthur Neto, presidente do PSDB no Amazonas, que em cores e em alto e bom som, por meio de vídeo anunciou na própria sexta-feira à noite: os tucanos teriam, sim, um candidato a governador no Amazonas, mas esse seria Amazonino Armando Mendes e ponto final, porque antiguidade é posto e ele, Arthur, pode até não ter mandato no momento, mas tem uma história que vem da fundação do partido e é tão densa e respeitável quanto as do triunvirato Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e Franco Montoro. Pronto. O Negão se reposicionou no game dentro de uma federação fortíssima, com um aliado experiente, poderoso e habilíssimo articulador, que já lançou o arpão na direção da nau de outro peso-pesado, o senador e ex-(tri)governador Eduardo Braga, que pode juntar o seu MDB à frota tucana.

EITA MENINO TRAQUINO
Farra com dinheiro do contribuinte é com ele mesmo, o presidente da Câmara Municipal de Manaus (CMM), David Rei(s), do Avante. Desde quando assumiu o comando da Casa, o rapaz vem aloprando sem medo. É como uma carreta desgovernada e sem freios numa ladeira: ninguém consegue parar e ai de quem se meter a besta, porque passa por cima. São licitações altamente questionáveis para obras mais questionáveis ainda, compras e mais compras, contratações de serviços e daí por diante. A última do cidadão é a aquisição de cadeiras de luxo para os vereadores, ao custo de R$ 2,5 mil a unidade. Vezes 41, isso representa a bagatela de R$ 102,5 mil. Muita grana para acomodar traseiros eleitos sim, mas que em sua absoluta maioria estão longe, muito longe de justificar os mandatos recebidos.

MONTESQUIEU? QUEM JÁ ERA ESSEZINHO?
E os donos dos traseiros a serem agraciados com os luxuosos assentos, o que dizem? Tirando dois vereadores de oposição, dizem nada, necas de patibiribas. Seguem mudos diante das farras protagonizadas por David Rei(s). Para os tais é como se tudo fosse normal, como se moralidade, não fosse dos cinco princípios explícitos exigidos à gestão pública (os outros são legalidade, impessoalidade, publicidade e eficiência). “Nem tudo que é legal é moral”, já disse alguém, resumindo o que pensava certo filósofo francês sobre farras com recursos públicos e envolvimento entre estado e religião. Isso lá na virada século XVII para o século XVIII, que foi quando esse cidadão viveu.

A NAÇÃO ZUMBI É AQUI
Nos anos 1990 os caranguejos tinham cérebro e assinaram até o manifesto do movimento contracultural manguebeat, do qual o cantor e compositor Chico Science, líder do grupo Nação Zumbi, era um dos principais mentores. Ainda devem ter e talvez até estejam preparando uma luta pela independência dos mangues, porque o negócio na Terra Brasilis está complicado. Mesmo estando comprovado que fazer arminha para a bomba de gasolina, para o balcão do açougue ou para o internet banking não enche o tanque de gasolina, não põe carne no prato e nem dinheiro na conta, ainda há quem siga zumbindo “micto, micto, micto” e erguendo estranhas catedrais pelo País.

E A NAÇÃO PORTEIRA ABERTA É LÁ
Na Câmara Federal, onde na calada da noite de quarta-feira passada 279 deputados aprovaram requerimento do líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), para a tramitação em regime de urgência de um projeto de lei (191/2020) que regulamenta a mineração em terras indígenas. Entre os votos a favor estavam os de cinco dos oito deputados do Amazonas: Alberto Neto (Republicanos), Bosco Saraiva (Solidariedade), Pablo Oliva (PUB), Sidney Leite (PSD) e Silas Câmara (Republicanos). Marcelo Ramos (PSD) não participou da votação porque presidia a mesa, Átila Lins (Progressista) estava ausente José Ricardo (PT) votou contra.

Esse projeto de lei do Governo Federal vem ancorado no discurso de que o Brasil não é autossuficiente em fertilizantes porque não consegue explorar o potássio localizado em terras indígenas. Pura falácia porque a fração das jazidas de potássio conhecidas que ficam em terras indígenas é pequena. O potássio é só a desculpa. O projeto abre a porteira, na verdade, para a pesquisa e lavra de vários recursos minerais como ouro e ferro, de hidrocarbonetos como petróleo e gás natural, e além disso para o aproveitamento de recursos hídricos na geração de energia elétrica. E as boiadas do ex-sinistro do Meio Ambiente Ricardo Sales vão passando tranquilamente.

ADEUS MANDATO?

A pergunta que não quer calar é se o prefeito e o vice-prefeito de Iranduba, Augusto Ferraz (PUB) e Robson Adriel Cardoso Maia conseguirão segurar os mandatos de prefeito e vice-prefeito de Iranduba, cassados neste sábado (12) pela juíza eleitoral Dinah Câmara Fernandes, por abuso de poder econômico na campanha eleitoral passada. Cabe recurso e muito dificilmente o processo chegará a termo antes de 2024, porque há várias etapas e instâncias a percorrer antes que o processo, movido pelo ex-candidato a prefeito Alain Cruz (PSC), transite em julgado. Mas pode ser que não. Quem sabe?

Osmir Medeiros
Colunista d’o Ralho, foi editor de economia Jornal Amazonas Em Tempo e editor de Opinião Jornal do Commercio, entre outros veículos.E-MAIL: osmirmedeiros@gmail.com

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui