REDI, NOSSO HOMEM EM NY
Por Ediel Ribeiro*
Rio – Sylvio Redinger – ou simplesmente Redi, como ele assinava – era o nosso homem na terra do Tio Sam.
Redi nos redimiu (ops!) do nosso complexo de vira-lata, de Nelson Rodrigues. O brasileiro sempre foi um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Em contrapartida, admira desavergonhadamente tudo o que vem de fora.
Apesar disso, poucos brasileiros conseguiram fazer sucesso nos states. Henfil foi para Nova Iorque, na esperança de emplacar seus Fradinhos, mas não conseguiu. Os americanos não entendiam o humor sacana dos frades da caatinga.
Paulo Francis, queria ser colunista na Big Apple, mas nunca conseguiu publicar nada lá, nunca passou de correspondente dos jornalões brasileiros.
Fio Maravilha, era um artilheiro consagrado no Brasil, foi lavar pratos em Nova Iorque.
Redi, não. Redi emplacou. Foi o único cartunista do mundo a fazer duas capas no The New York Times. O carioca Redi, era um exímio cartunista, pintor e ilustrador. Ilustrou as melhores publicações brasileiras dos anos 60 e 70.
Ambidestro – escrevia com a direita e desenhava com a esquerda – com apenas 18 anos, já trabalhava na Editora Bloch, onde produzia a contra capa da revista “Manchete Esportiva”.
Publicou cartuns no “Pasquim” e tiras no “Ùltima Hora”. Foi redator da TV Globo e criou diversos desenhos para o “Plim-Plim”.
Ilustrou o livro “Humor Judaico”, de Moacyr Scliar e criou o famoso cardápio do restaurante Le Monde. Foi o ilustrador mais prolífico do “Gip-Gip Nheco Nheco”, do jornalista e humorista Ivan Lessa.
Músico, acompanhou Emilinha Borba numa turnê pelo Egito e fundou, em Nova Iorque, o conjunto Rio Samba Jazz, onde tocou com grandes nomes do jazz.
Estava radicado nos Estados Unidos desde os anos 80. Em Nova Iorque seu grafismo evoluiu mais ainda. Fez exposições individuais, ilustrou jornais e revistas ianques, e foi vizinho do Christopher Reever (o Superman).
Redi foi também ator. Fez uma participação na peça “Congestion Ahead” de Charles Casillo, em 1992 . Antes, em 1974, fez o curta metragem “Isso é Problema Seu”, escrito e co-dirigido pelo cartunista e amigo Nani. No filme, ele fez o papel de um investidor que sai do prédio da Bolsa de Valores, sofre um ataque cardíaco e acaba cuidando de seu próprio enterro, desce à sepultura batucando no caixão e pedindo: ‘Garçom, me dá uma cerveja que vou beber até viver!’”
Redi era um tipo grandalhão, desajeitado, bonachão. Quem quer que o tenha conhecido tem, certamente, “uma do Redi” para contar. Para mim, a melhor das histórias foi uma contada pelo Jaguar, acontecida na redação do Pasquim: “Estávamos, Ivan Lessa e eu, fechando mais um número do Pasquim, na redação da Saint Roman quando o Redi adentrou a minha sala.
Pelo menos duas vezes por semana, ele ficava andando na frente da minha mesa pra cá e pra lá até eu perguntar: “Que aconteceu desta vez, Redi?” No que, invariavelmente, dizia: “Contando, ninguém acredita” e contava uma história inacreditável, mas com ele tudo podia acontecer.
Desta vez, foi direto ao assunto: “Estou com dores no peito” – disse para o Ivan. “Acho que vou ter um enfarte”.
“Claro que vai ter” – rosnou o Lessa. “Mas com tudo que temos direito”, acrescentou. Jogou-se no chão, emitindo roncos apavorantes, rolou no tapete e finalmente estatelou-se com os olhos vidrados, a língua pra fora.
Redi ficou tão impressionado com a performance do Ivan Lessa que esqueceu o enfarte e voltou para sua prancheta”.
De volta ao Brasil, publicou suas crônicas na revista “Bundas”, contando as desventuras de viver em NY sem o green card, e outras histórias.
Morreu de enfarte, no dia 14 fevereiro de 2004, em seu apartamento, no Leme, no Rio de Janeiro.
Contando, ninguém acredita.
*Ediel Ribeiro é jornalista, cartunista e escritor