FOLCLORE POLÍTICO DO AMAZONAS 

Amazonino Armando Mendes nasceu em Eirunepé, em 16 de novembro de 1939, filho de Armando de Sousa Mendes e de Francisca Gomes Mendes. Seus primeiros estudos foram feitos em sua cidade natal. Depois, transferiu-se para o Ceará e estudou no Colégio Castelo Branco, em Fortaleza. De volta ao Amazonas, foi aluno do Colégio Dom Bosco, em Manaus, e cursou o segundo grau no Seminário do Espírito Santo, em Tefé.

Em 1960, ele foi nomeado diretor-auxiliar do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do Amazonas, onde ficaria até 1963. Em 1961 participou do Congresso Nacional dos Estudantes Secundaristas, realizado em Goiás. Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do Amazonas em 1966. No mesmo ano assumiu a chefia do Serviço de Transportes Rodoviários do DER, na qual permaneceu até 1968. No ano seguinte bacharelou-se em Direito.

 

Após a formatura passou a trabalhar no escritório do criminalista e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ari Franco, tendo atuado junto aos tribunais superiores de Brasília em defesa de mandatos de parlamentares amazonenses impugnados pelo Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas.

Nos anos 70, Amazonino Mendes criou a construtora Arca e, aos 33 anos, quando seu empregado analfabeto, o pedreiro Antonio Alves do Carmo, tirou a sorte grande na Loteria Esportiva, convenceu-o a se tornar seu sócio, construindo o conjunto Ayapuá, na zona oeste de Manaus. Uma mudança contratual deixou o pedreiro na pindaíba, sem dinheiro sequer para comprar um caixão de terceira classe, adquirido numa “vaquinha” feita pelos amigos, quando morreu de câncer em 25 de março de 2009.

Em 1982, Amazonino foi o coordenador jurídico do PMDB na eleição de Gilberto Mestrinho. Atendendo a um pedido do deputado estadual João Thomé, endossado pelo empresário Adib Mamede, Gilberto Mestrinho o nomeou prefeito de Manaus, cargo que exerceu de 83 a 85, tendo como símbolo uma abelha. Fez um trabalho impecável, asfaltando milhares de ruas, becos e vielas. Na sequência, Manuel Ribeiro foi eleito prefeito de Manaus em 1985 e convenceu Mestrinho a lançá-lo candidato a governador no ano seguinte. O boto concordou.

Pressionado por Adib Mamede, João Thomé encostou o pai na parede. Ele explicou que a ala “esquerda” do PMDB – o PCB, na época ilegal –, apoiava a candidatura de Amazonino e propôs uma solução razoável: os dois iriam às ruas. Aquele que mobilizasse as massas e se saísse melhor nos comícios seria indicado para disputar o governo. O boto concordou.

Adib coordenou a campanha do “candidato-abelha” nas ruas e João Thomé costurou as alianças nos bastidores. Sob o comando de Adib, a incendiária Lucimar Mamão recrutou cerca de 500 militantes, os “zangões”. Nos comícios, eles se posicionavam na frente do palanque e ficavam vaiando ininterruptamente os discursos de Manuel Ribeiro. Quando Amazonino assumia o microfone, as vaias se transformavam em gritos histéricos de “já ganhou! já ganhou! já ganhou!”. Uma zorra!

Nesse meio tempo, insatisfeitos com os rumos da “sucessão”, os “autênticos” do PMDB haviam tirado o time de campo: Artur Neto, Félix Valois, Mário Frota, Beth Azize e outros se bandearam para a oposição. O terreno ficou livre para os dois pré-candidatos de Mestrinho.

Numa manhã de sábado, quando se preparava para pegar a balsa de São Raimundo e ir coordenar os “zangões” num comício em Manacapuru, Adib foi agredido pelas costas por um graduado cabo eleitoral de Manuel Ribeiro. O libanês reagiu com violência e quase matou o sujeito de pancadas. Quando Adib chegou a Manacapuru, a notícia do fuzuê já estava na boca do povo.

Na hora do almoço, no restaurante Rodoviário, Adib estava conversando com João Thomé sobre o incidente, quando a comitiva de Manuel Ribeiro entrou no recinto. Atrás de votos, o português saiu apertando as mãos de todas as pessoas presentes no local, mas Adib não lhe estendeu a mão. Aquilo foi como uma tapa na cara.

Puto da vida, Manuel Ribeiro tentou derrubar sobre Adib um copo de suco que estava na frente do libanês, mas este foi mais rápido: segurou o copo e jogou o líquido no rosto do português. Manuel Ribeiro quase teve um chilique e o cabaré pegou fogo, com xingamentos e nova sessão de pancadaria entre os peemedebistas adversários. No meio da confusão, Amazonino e João Thomé conseguiram colocar Adib numa picape e despachá-lo para a fazenda de Antônio D’Angelo. O libanês queria sangue.

Transtornado, Manuel Ribeiro ligou para Mestrinho solicitando uma força policial para prender Adib, disse cobras e lagartos de Amazonino e retornou para Manaus, espumando de ódio. João Thomé contou ao pai o que de fato havia acontecido. O desequilíbrio emocional do português foi fatal para suas pretensões políticas: o boto resolveu apoiar o “candidato-abelha”.

Amazonino, Vivaldo Frota (vice), Fábio Lucena e Carlos Alberto De’ Carli (senadores) derrotaram Artur Neto, Serafim Corrêa (vice), Mário Frota e Raimundo Parente (senadores). A oposição ganhou em Manaus, mas houve tanta maracutaia no interior do estado que o “sistema” tirou a diferença e virou o jogo. Pelo menos dois candidatos (Mário Frota e Antar) dormiram eleitos e acordaram derrotados. E ficou por isso mesmo.

FOLCLORE POLÍTICO DO AMAZONAS 

Um eleitor encontrou o vereador Francisco Praciano (PDT) no corredor da Câmara Municipal, numa sexta-feira à tarde, e resolveu dar uma “facada”:

– Vereador, será que dava para o senhor me arrumar 100 reais, pra mode eu poder comprar um caixão para a minha genitora, que teve um passamento nessa madrugada e faleceu?

Francisco Praciano deu seus pêsames ao sujeito, mas explicou que só iria ter dinheiro na segunda-feira.

Antes que abrisse a porta para entrar no gabinete, o eleitor segurou o vereador pelo braço e tentou uma última cartada:

– Então, vereador, me empreste pelo menos 5 reais…

O vereador ficou irritado.

– Pô, cara, você chegou aqui querendo 100 reais para comprar um caixão e agora só tá querendo 5 reais… Deve ser bem pra tomar de cachaça ali na esquina, né não?

O sujeito reagiu:

– Que é isso, vereador, eu sou evangélico! Deixei de beber faz mais de 15 anos! Os 5 reais são pra comprar 10 quilos de sal e salgar a velha, pra ver se o corpo aguenta até segunda-feira, que é quando o senhor vai ter o dinheiro do caixão…

Diante de tais argumentos, só restou ao Praciano abrir a carteira e dar o dinheiro ao sujeito.

FOLCLORE POLÍTICO DO AMAZONAS 

Depois de uma disputa ferrenha pela direção do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação, Edson Padeiro, militante de base do PCB, conseguiu vencer a eleição e toda a velha-guarda do partido foi prestigiar a posse do novo dirigente sindical.

Com a Casa do Trabalhador lotada de militantes, simpatizantes e aderentes, e os dirigentes comunistas babando de orgulho do seu novo líder operário, Edson começou seu inflamado discurso de posse:

– Meus cumpanhêro e minhas cumpanhêra, meus camarada e minhas camarada! Os pelegos que controlava o sindicato passaro o tempo todo nos xingando, nos ofendendo e nos chamando de cumunista. Pois eu quero dizer o seguinte: cumunista são eles, que deixaro nossas criança morrer de fome, que deixaro nossos cumpanhêro ser demitido sem justa causa, que se vendero para os patrão. Eles é que são cumunista, porque nunca lutaro pelos interesse do trabalhadô, porque sempre chamaro a polícia pra bater nos grevista, porque sempre fizero o jogo da burguesia. Eles, esse mangote de cabras safados, é que são os verdadeiro cumunista!

O secretário-geral do PCB, Geraldo Campelo, que ouvia o discurso na primeira fila, quase teve um troço.

Simão Pessoa

Colunista d’O Ralho, poeta e humorista, dedica-se ao jornalismo cultural e à atividade de produção e criação publicitária. Foi editor de cultura Jornal Amazonas Em Tempo e colunista Jornal Correio Amazonense, entre outros veículos, e divulgador, em Manaus, da geração beat americana e da poesia marginal brasileira.

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