GERALDO CAPA DE FLAUTA
Por José Rocha*
O saudoso Geraldo tinha este apelido em decorrência de ser um magrelo vara pau.
Andava sempre na beca, com camisa manga comprida, calça social e cinturão.
Sempre penteando a sua cabeleira com um pente Flamengo.
Fumava na maior bossa, tipo um lorde.
Era cantor e tinha pinta de artista de cinema.
Tinha um vozeirão e fã de carteirinha do cantor Caubi Peixoto.
Gostava de imita-lo cantando aquela canção: Conceição, eu me lembro muito bem.
Vivia no morro a sonhar
Com coisas que o morro não tem.
Ele trabalhava no Porto de Manaus, que chamava de Manaos Harbour.
Quando saia do trabalho batia outro ponto no Bar da Sogra (Toscano e Conceição), na Avenida Joaquim Nabuco e também no Bar do Armando.
Tinha um Fusquinha amarelão. A porta do motorista não abria.
Certa vez, alguém colocou um adesivo na porta do carango. Ele não viu, pois entrava pela porta do passageiro.
Notou que por onde passava, as pessoas olhavam e davam gargalhadas. Ele ficou invocado.
Parou num boteco da Praça do Caranguejo, no Eldorado, e foi averiguar o carro pelo lado de fora.
Estava lá um adesivo de um candidato a vereador, no qual aparecia a foto de um sujeito cabeludo e em letras garrafais “VOTE NO CABASSO”
Ficou puto de raiva e voltou ao bar.
Achou que foi eu que tinha colocado aquela marmota no carro dele. Levei a culpa sem nada ter feito.
O Geraldo fez campanha para o Collor de Mello para a presidência da república. Era fã do camarada.
Antes do homem assumir, o Geraldo vendeu um terreno e o comprador perguntou se ele queria receber em dólares. Não aceitou. Fez questão de receber em moeda nacional e depositou tudinho na poupança, para desfrutar de umas férias em Portugal.
A primeira coisa que o Collor de Mello fez foi congelar a poupança.
O Geraldo foi à loucura. Ficou tão revoltado que colocou uma placa em seu fusquinha COLLOR LADRÃO EFEDEPE. VÁ ROUBAR O CARALHO!
Ai o fusquinha ficou mais famoso ainda. Por onde passava o povo ria e batia palmas.
Ele era muito engraçado. Quando ficava bêbado, ao terminar de cantar Conceição, falava bem alto GERALDO CAPA DE FLAUTA E PIMBA DE FLANDRES.
Depois fez campanha para o Brasil voltar a ser uma Monarquia. Ele colocou outra placa no fusquinha “SOMENTE UM REI PARA ACABAR COM ESTA PATIFARIA E MANDAR TODOS ESSES SAFADOS PARA O CALABOUÇO”.
Saudades do meu amigo Geraldo Capa de Flauta.
José Rocha*
Sou da Mana Manaus, manauara da gema, escritor e boêmio igual ao
meu saudoso pai Rochinha; conhecedor e frequentador assíduo desde
tempos idos de todos os botecos tradicionais da nossa cidade, onde
presenciei in loco muitos causos e causas perdidas em noites quentes
cheias de gentes sedentas de cervejas, músicas e corações para se
apaixonar e desapaixonar no dia seguinte.
O meu amigo de longas datas, o Jack Cartoon, editor do O Ralho (a
visão contestadora, humorística e diária da realidade), pediu-me para
fazermos uma parceria, para eu escrever as minhas crônicas e ele
fazer as caricaturas, topei na hora. Será uma honra.