Velhos amigos de caserna
Por Simão Pessoa (*)
Álvaro Botelho Maia nasceu em 19 de fevereiro de 1893, no Seringal Goiabal, às margens do rio Madeira, no município de Humaitá, filho primogênito do seringalista Fausto Pereira Maia e de Josefina Botelho Maia. Seus irmãos Antônio Botelho Maia e Raimundo Botelho Maia também se destacaram na vida política do estado, o primeiro como prefeito de Manaus (nomeado pelo irmão-interventor em 1936) e o segundo, como deputado federal entre 1948 e 1959.
Álvaro Maia realizou os primeiros estudos com seus pais no próprio seringal. Enviado em seguida a Manaus, concluiu o primário no Instituto Amazonense e cursou o secundário nos colégios Cinco de Setembro, Santana Néri e Pedro II. Aos 16 anos, iniciou suas atividades jornalísticas como colaborador do Jornal do Comércio, A Aura e O Libertador. Fez o serviço militar no 26º Batalhão de Caçadores, tendo como companheiros de caserna o artista plástico Branco e Silva e o poeta Américo Antony.
A partir de 1913, frequentou durante dois anos a Faculdade de Direito do Ceará, período em que escreveu para os jornais Vaticano e Radical. Transferiu-se em seguida para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, onde concluiu seus estudos superiores em 1917 pela Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais. De volta a Manaus, fundou o jornal A Imprensa, tornou-se redator da Assembleia Legislativa e figurou entre os 30 fundadores da Academia Amazonense de Letras
Após a Revolução de 1930, foi nomeado interventor federal, tendo se exonerado do cargo no ano seguinte. Em 1935, foi escolhido senador pela Assembleia Estadual e, depois, também em eleição indireta, virou governador. Com o golpe político do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937, foi nomeado outra vez interventor federal, mantendo-se no poder até a queda de Getúlio Vargas, em 29 de outubro de 1945.
Assim que assumiu o latifúndio amazonense, Álvaro Maia escolheu os prefeitos, despachou cada um para sua cidade e ficou em Manaus cuidando do governo. Do governo e da poesia. Gostava de perpetrar versos e promover saraus literários no Palácio Rio Negro. Publicou livros, alguns de boa crítica, como “Buzina dos paranás”. Para ele, um bom verso valia mais do que um bom despacho.
Um dia, chega a Manaus o prefeito de Lábrea, lá no infinito do rio Purus, quase no Acre.
– Senhor interventor, vim solicitar-lhe a demissão ou transferência do promotor, dr. Américo Antony. Está dando escândalos na cidade. Bebe muito, outro dia ficou nu na beira do rio. E há coisa pior, muito pior, senhor interventor! Além de todos os vexames, imagine V. Exa. que ele ainda é poeta. Poeta!!!
O promotor, também nomeado por Álvaro Maia, ficou no posto. O prefeito foi desnomeado na mesma hora. É pra isso que servem os velhos amigos de caserna e de poesia.
(*) Simão Pessoa é escritor, engenheiro e contador de causos.