Vitória da esquerda na França expressa o colapso do neoliberalismo
Vitória da esquerda francesa como cabeça de chave do poder francês tem repercussão internacional em todo o sistema econômico capitalista
Por César Fonseca*
A Nova Frente Popular (NFP) francesa, vitoriosa nas eleições parlamentares, neste domingo, vai incomodar a concentração da propriedade na comunicação que impede a democratização das opiniões sociais.
O monopólio e o oligopólio das comunicações, como existe no Brasil e na América Latina em geral, serão combatidos pela nova força política na França, que ensaia robustecimento da Social Democracia, para se distanciar do neoliberalismo e do fascismo, que cultivam fanatismo e obscurecimento da crítica, para promover narrativas políticas diversionistas e mentirosas, impulsionando ideologia de ódio.
Tremenda derrota do bolsonarismo e do mileinismo, que ensaiam aliança no Brasil para fincar regressão política na América Latina.
O ocidente, puxado pelos Estados Unidos e França, dominados pelos reacionários de centro-direita, jogou os europeus no acriticismo midiático, que impediu a Europa de ter notícias da Rússia durante os combates com a Ucrânia, apoiada pela Otan, dominada por Washington.
Censura à liberdade de opinião de forma descarada e fascista, que contribui para o avanço do nazifascismo como projeto político.
A narrativa que os europeus consomem é pró-washington e anti-Moscou, idem, América Latina.
Puro maniqueísmo midiático cultural, econômico, político e social.
Os Estados Unidos obrigaram a Europa a engolir o discurso neoliberal e impediram que os europeus consumam matérias primas da Rússia, que tornam seus produtos industriais mais baratos e competitivos internacionalmente.
FUGA DA VERDADE
Por conta disso, sem a liberdade de informação, o velho continente sofre inflação de custos, que reflete sobre os salários, abaixando o poder de compra da população europeia, quando poderia, com as vantagens competitivas que dispõe, pelo domínio científico e tecnológico disponível a preço baixo, estar enfrentando pau a pau a China, os Estados Unidos e a Rússia.
Ao contrário, como está sob efeito das sanções econômicas americanas sobre a Rússia, que repercutem diretamente no bolso do europeu, a Europa importa a crise de todos os lados.
A subserviência europeia aos Estados Unidos é imposta mediante supressão da liberdade de informação e imposição do modelo neoliberal.
O padrão de vida na Europa, um dos pilares do G20, perde, aceleradamente, a disputa para a China e para os BRICS, enquanto não pode fechar acordos comerciais com outros povos, pois o velho continente perdeu vantagem comparativa que prejudica sua relação nas trocas internacionais.
SOCIAL-DEMOCRACIA CONDENADA
Trata-se, portanto, de cenário político catastrófico que teve resposta do eleitorado francês neste domingo.
Grande baque do neoliberalismo financeiro especulativo que elevou a taxa de exploração do capital sobre o trabalho, ao mesmo tempo em que eliminou direitos sociais e trabalhistas, jogando a classe trabalhadora ao período anterior à Primeira Guerra Mundial, quando vigorava o capitalismo clássico neoliberal sob padrão ouro.
Os direitos dos trabalhadores, nesse regresso histórico, foram para o espaço, sem que a social-democracia reagisse à altura contra o neoliberalismo triunfante, com ampliação do mercado sobre o Estado, tomando-o para si, exclusivamente, enquanto destrói direitos trabalhistas, previdenciários etc.
O presidente Macron passou por cima da Assembleia Nacional para aprovar redução da aposentadoria e proventos dos aposentados, reduzindo, drasticamente, seu padrão de vida.
Os salários médios na França passaram a ser dados pelo arrocho salarial impostos sobre os emigrantes que contribuem para diminuir o salário médio da classe média, jogando seu padrão de vida no chão.
Especialmente, nos últimos dois anos, com a guerra por procuração na Ucrânia, financiada pela OTAN- EUA, para tentar destruir a Rússia, os europeus arcaram com as consequências produzidas pelas sanções econômicas baixadas por Washington sobre Moscou.
Rússia se safou, mas a Europa se afundou.
ESQUERDA NO BURACO
Nesse cenário, a esquerda, que havia se aproximado dos liberais, neoliberais, direita e semi fascistas, aceitando a destruição prática dos valores sociais-democratas, que nasceram para barrar a ascensão do comunismo na Europa, acabou se desmoralizando.
O resultado foi o avanço espetacular dos fascistas no primeiro turno das eleições francesas, que atuaram como um terremoto sobre a esquerda, sacolejando-a do marasmo político ao qual se acostumou, mal acompanhada dos liberais dos quais comprou o discurso furado da unidade política democrática da boca para fora.
A reviravolta neste domingo, com eleição de segundo turno, desperta a esquerda do sonho infantil, para enfrentar o neoliberalismo, preferencialmente, pois, caso contrário, repetirá comportamento equivocado de sonhar algo concreto com a cabeça da burguesia financeira especulativa ultra neoliberal.
Portanto, a vitória da esquerda francesa como cabeça de chave do poder francês, a partir deste domingo, tem repercussão internacional em todo o sistema econômico capitalista que floresceu com o fim da guerra fria e emergência do pensamento único neoliberal.
Essa tendência levou choque brutal, em 2008, com a crise financeira dos subprime, nos Estados Unidos, que levou a banca americana à debacle, sendo salva pelo aumento do endividamento do império na operação de trocas de dívidas velhas por dívidas novas, com redução de taxa de juro e alongamento de prazo de pagamento.
Mas a voracidade financeira do capitalismo financeirizado especulativo, que se alimenta de guerra mediante expansão da dívida pública americana, abalou o próprio neoliberalismo, a representação pronta e acabada da economia financeirizada, abalada com a visível derrota dos Estados Unidos-OTAN na Ucrânia, bem como a desmoralização de Washington por estar avalizando o genocídio de Israel em Gaza.
FUGINDO DA DESMORALIZAÇÃO TOTAL
O neoliberalismo não deu retorno algum à esquerda francesa, que se aliou ao centro e à direita, com Macron, homem dos banqueiros, cujo resultado foi a destruição de direitos econômicos, trabalhistas, sociais, providenciais etc dos trabalhadores assalariados, com consequente expansão da uberização econômica europeia.
Os europeus têm sido privados da liberdade de informação em meio às guerras que a Europa enfrenta para aprofundar subordinação política aos Estados Unidos com prejuízo da democratização dos meios de comunicação, que escondem a realidade da população, mediante ideologia diversionista, sectária, acrítica, pró-mercado.
O programa de esquerda que amplia essa liberdade com combate à concentração da propriedade na área de comunicação é exemplo que aprofundará conquistas nos países capitalistas abalados pela financeirização econômica neoliberal, como no Brasil, onde a mídia alternativa dá passos de gigante no sentido de descobrir e inovar várias formas de comunicação social interativa que revoluciona as trocas de informação na sociedade com maior grau de liberdade e crítica.
Vive le France!
Por César Fonseca*
Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana