O FAMIGERADO CENTRÃO 

Por Carlos Santiago*

Abraços e sorrisos! Alegria total, conquistas de sempre. Ninguém sabia quantas vitórias, recursos públicos e governos serviram. São conhecidos como políticos do grupo do Centrão do Congresso Nacional.
Eles não possuem a mesma origem ideológica, profissional ou familiar. São ex-comunistas, religiosos incrédulos, ex-neoliberais, ex-militares e filhos de donos de partidos políticos, mas características os unem e os revelam: estão sempre unidos para manter a velha política do toma lá dá cá e o enriquecimento pessoal em detrimento do interesse coletivo.
Um dos membros do Centrão, quando adolescente, ficava dias lendo obras do russo Vladimir Lenin e do alemão Karl Marx. O Manifesto do Partido do Comunista era o seu travesseiro. Em qualquer reunião partidária ou fora dela usava frase dos ídolos comunistas e socialistas: “as revoluções são as festas dos oprimidos e explorados”. No início da fase adulta, depois de leituras e de participações em manifestações populares, percebeu que os princípios do comunismo não seriam conquistas imediatas, na verdade, desenhavam-se como utópicos e durariam séculos de lutas. Não pretendia esperar tanto tempo para chegar ao poder, por isso, resolveu filiar-se a um partido conservador, desejava participar do poder institucionalizado.
Outro político, agora líder do Centrão, advém da militância religiosa. Pessoa muito dedicada, passava dias pregando nas ruas as “palavras de Deus”. Não se descuidava de citar as bem-aventuranças bíblicas: “bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” e também “bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados”. Numa reunião com os mais antigos pregadores da igreja, entendeu que a religião pode ser também um meio próspero para a riqueza material e que o cristianismo não passa de um conjunto de concepções moralizadoras e de conduta ética. Chegou a seguinte conclusão: se Jesus e Deus não existem, então não existe castigo divino. Isso o deixou feliz, e após várias reuniões secretas com pastores, ingressou na política partidária.
Outro colega do ex-comunista e do líder religioso, é um grande empresário. Um homem que desde cedo tinha vocação para os negócios. Defendia a máxima de Adam Smith de que a “mão invisível” vai promover o bem-estar da sociedade. “Tinha os ex-governantes Ronald Reagan, dos EUA e Margaret Thatcher, da Inglaterra, como referências de administradores, assim como a proposta neoliberal para economia. Depois de várias tentativas fracassadas de fazer negócios sem subsídios estatais, ele resolveu, por iniciativa de um amigo, procurar um banco oficial e, com o subsídio, montar uma empresa de serviços terceirizados para o governo. Assim, ficou muito rico.


Se experiência é tudo, o Centrão é um celeiro. Seu membro mais experiente vem de uma dinastia política. O seu bisavô tinha sido senador no período imperial; seu avô foi senador na velha república e o pai conquistou vários cargos no Poder Executivo na Ditatura Militar. Nunca esteve na oposição. Diz sempre que ficar na oposição política é um castigo que não deseja nem para os inimigos. Sorria quando alguém comentava que ele dominava quase todas as prefeituras do Estado onde residia.
Os abraços e sorrisos nos rostos deles, demonstravam que aquela sessão legislativa do Congresso Nacional, que acabava de aprovar a Reforma da Previdência, tinha sido ótima para eles, pois liberava bilhões de reais para as emendas secretas para parlamentares, e destinava enormes recursos para os seus currais eleitorais e para empresas dos “amigos”, construtoras das obras.
Além disso, receberam a promessa do governo federal de que ocupariam cargos na Administração Pública Federal. Eles não poderiam estar mais felizes.

 

Dr. Carlos Santiago – Sociólogo, Analista Político, Advogado e colunista do portal O Ralho

 

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