O espectro do estupro, da pedofilia e da violência de gênero no bolsonarismo

‘Ecoa o desprezo pela vida feminina levado ao paroxismo pela ditadura militar’, diz o colunista Tiago Barbosa após a Câmara aprovar urgência do ‘PL do Estupro’

Por >Tiago Barbosa*

 

O espectro do estupro, da pedofilia e da violência de gênero paira no bolsonarismo como influência para perpetuar abusos contra mulheres, crianças, vulneráveis.

É vetor mobilizador por trás da rejeição contra os avanços progressistas e do avanço das “pautas conservadoras”.

A busca por punição maior ao aborto no PL do Estupro finge proteção à vida para dar a estupradores a paternidade à custa da integridade física, moral, psicológica, humana da mulher.

Ecoa o desprezo pela vida feminina levado ao paroxismo pela ditadura militar (1964-1985), regime sob devoção da seita bolsonarista.

O relatório da Comissão Nacional da Verdade divulgado em 2014 dedicou um capítulo inteiro para analisar as atrocidades sexuais cometidas pelos porões e escancarar a barbárie fascista.

Estupros, violências e torturas eram executados como método de explicitação de poder e dominação contra os inimigos políticos – com requintes de humilhação, diante de filhos, cônjuges para destroçar corpo e mente femininos.

O espírito da violação perpassa o exercício político do bolsonarismo, com misoginia e ameaças à integridade da mulher.

Em 2014, Jair Bolsonaro – fã de Brilhante Ustra, um dos mais carniceiros e asquerosos torturadores do regime militar, disse à deputada Maria do Rosário “Não te estupro porque você não merece”.

Nas eleições de 2022, circulou vídeo de entrevista de Bolsonaro em que diz que “pintou um clima” com “menininhas de 14, 15 anos”.

No mesmo ano, a base de apoio dele no Congresso votou contra a urgência para tornar a pedofilia crime hediondo.

Figuras expoentes associadas ao bolsonarismo aparecem envolvidas com a prática de estupro, como o vereador Gabriel Monteiro (preso por violar adolescente) e o ex-jogador Robinho, condenado por crime sexual fora do país.

A tentativa de subjugação da mulher através do desrespeito à integridade feminina se espalha sob camuflagem em outras áreas de atuação desse extremismo de direita.

É a busca desesperada por um salvo-conduto para validar uma superioridade (inexistente) à base de violência forjada pelo arranjo patriarcal do poder.

A perseguição a Maria da Penha – intensificada recentemente – é aval para deslegitimar a lei de proteção às mulheres e estimular a violência doméstica ancorada em machismo e misoginia.

O ataque à educação com invenção de uma “ideologia de gênero”, de “escolas sem partido” é para impedir crianças e adolescentes de identificar abusos sexuais cometidos por pedófilos.

Essas ações se combinam e escoram sob distrações conceituais – fé, moral, família, costumes, tradição, conservadorismo – para ocultar a verdadeira razão de existirem.

Sob a cortina de hipocrisia, no entanto, a face real aparece com “pintou um clima” com adolescentes, bolsonaristas presos por pedofilia, pastores detidos por abusos, empresário de produtora extremista por trás de fórum de pedofilia e pornografia, direitista em turismo sexual na guerra.

A atmosfera do bolsonarismo impele a dar liberdade de ação e impunidade a quem vê na violação de mulheres, crianças e gente indefesa um direito de opressão natural.

E o olhar em retrospectiva evidencia a conexão histórica de sofrimento e violência no Brasil violado pela opressão de gênero onde esse extremismo se inspira.

É a pulsão pela desumanização do outro em benefício do sadismo e do gozo real ou metafórico de quem maltrata.

Normalizar essa degeneração é fazer do espectro do abuso uma realidade contra a vida dos brasileiros – é endossar violências.

Nenhum ser humano merece isso – e nem o Brasil sofrer essa dor.

*Tiago Barbosa

Jornalista, pós-graduado em História e Jornalismo, com passagem por jornais de Pernambuco

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