Golpe na Bolívia e fim do petrodólar: Brasil novo rico do mundo
Washington não acredita em Lula, como também não tolera Luis Arce, na presidência da Bolívia, muito menos Evo Morales
Por > César Fonseca*
Não sei se o deputado Rui Falcão (PT-SP) está certo ao dizer, na TV 247, que os Estados Unidos não se envolveram no golpe, na Bolívia, mas uma coisa é certa: as táticas imperialistas mudarão – já estão mudando – para desestabilizar governos hostis aos americanos.
Washington não acredita em Lula, como também não tolera Luis Arce, na presidência da Bolívia, muito menos Evo Morales, ambos do maior partido de esquerda do país, o MAS – Movimento ao Socialismo, embora estejam em atrito, o que pode ter induzido militares ao golpe frustrado de 26 de junho, explorar divisão na esquerda boliviana.
Não derrubaram Dilma, em 2016, pelo parlamento, judiciário e mídia, concatenados, para instalar o modelo neoliberal, para assaltar as reservas brasileiras de petróleo, sem necessitar movimentação de tropas militares?
Lançar mão dos quartéis deixou de ser usual na América Latina, pelo menos, por enquanto, o futuro é sempre incógnito.
NOVAS ALIANÇAS ESTRATÉGICAS
Os argumentos de Falcão deixam claro que a saída latino-americana é sair da órbita exclusiva dos Estados Unidos e buscar parceria com o novo poder emergente global, China e Rússia, no âmbito dos BRICS, do qual o Brasil faz parte como sócio fundador.
Claro, não se trata de sair de uma vez das asas de Washington, mas a realização de um acordo comercial e militar com a China, bem como com a Rússia vai se revelando necessário.
O império americano só aceita governo por aqui, no sul global, alinhado a ele de forma irredutível.
Dá certo o jogo do presidente Lula de falar fino com Washington, que está por trás da política macroeconômica conduzida pelo Banco Central, que tenta destruí-lo.
Isso está claríssimo.
Com a China e a Rússia, interessadíssimos na América do Sul, conseguirá tudo que propor.
Com os EUA, não, porque os americanos já assumem que a América Latina é deles, como destaca, arrogantemente, a general Laura Richardson, comandante do Comando Sul, referindo-se à Doutrina Monroe.
Pular fora desse rígido quadrado geoestratégico traçado por Washington é a tarefa principal na nova geopolítica, voltada à construção da multipolaridade, porque a unipolaridade sustentada pelos Estados Unidos, está alquebrada, especialmente, com o fim do petrodólar, que deixou o dólar sem lastro real.
PULAR FORA DAS RESERVAS EM DÓLAR
As reservas de 360 bilhões de dólares que Lula acumulou podem virar pó, depois do fim do petrodólar.
A China está vendendo suas reservas, que chegaram a superar 4 trilhões de dólares, trocando-as por patrimônio real mundo afora.
A Bélgica, outro dia, vendeu parte das suas reservas, também.
Os árabes, por sua vez, já acertam com os chineses a venda de petróleo em yuan.
Todo mundo que tem reserva em dólar está comprando ouro.
Haja ouro!
O que tem de dólar candidato a desvalorizar, depois do fim do petrodólar, não está no gibi.
O império não tem mais base monetária segura.
Pode ficar sem poder de emitir para fazer guerra, como tem sido a prática imperialista, nos últimos 80 anos, desde Bretton Woods, em 1944, porque, com o fim do acordo dos petrodólares, com os árabes, que venceu esse mês(foi assinado em 1974), a moeda americana já era, deve virar papel de parede.
A praça financeira global, se já estava temerosa com a dívida pública americana, na casa dos 30 trilhões de dólares, agora, então, com o fim do petrodólar, o pânico só aumenta, sabendo que o lastro real do dólar deixou de existir.
Não seria o caso de Lula partir para a desmonetização dos dólares acumulados, perigando aguarem-se, e transformá-los em obras?
NOVO RICO DO MUNDO
E quem tem as maiores reservas de ouro, no mundo, não é o Brasil, por acaso?
Com o fim do petrodólar, Brasil, cheio de petróleo, ouro, minerais raros, como o nióbio, etc, é a nova riqueza mundial, a dar as cartas, alguma dúvida?
Não seria o caso de o Brasil construir sua própria cesta de moeda, baseada em metais, para ancorar o real e emitir moeda para o desenvolvimento, tendo esse lastro real, sem ter medo de desobedecer ao BC Independente, monitorado por Washington, que não deixa Lula governar, enquadrando-o no arcabouço fiscal neoliberal?
O fato é que, sem petrodólar, para ancorar o dólar, o petróleo vira nova moeda real descolada, agora, da moeda americana, como já exercitam os árabes, na sua relação com a China.
Vender dólar é o negócio, certa está a China.
Por que o BC americano(FED), por acaso, está dizendo que não sabe mais quando baixará a taxa de juro, o que influi, no Brasil e no mundo, para os juros, também, ficarem nas alturas, beneficiando, apenas, os rentistas?
Se os juros americanos baixarem, no cenário em que os petrodólares não existirão mais, quem vai ancorar as verdinhas de Tio Sam?
Não seria o ouro e o petróleo brasileiro, sem falar nos poderes agrário e biodiversidade disponíveis, para matar a fome do mundo e garantir estabilidade climática global?
* César Fonseca
Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana