Ciro inicia campanha do voto útil em Lula
“Ciro Gomes inviabilizou sua candidatura de vez ao menosprezar os moradores de favela ao vivo e a cores”, diz Alex Solnik
Nas eleições de 1950, o brigadeiro Eduardo Gomes, o favorito, perdeu em cima da hora para Getúlio Vargas depois de afirmar que não precisava do voto dos “marmiteiros”. Nem usou a palavra, mas os adversários martelaram essa versão, que prevaleceu sobre o fato.
Ciro Gomes nunca demonstrou ter fôlego para tanto, mas ontem inviabilizou a sua candidatura de vez ao menosprezar os moradores de favela ao vivo e a cores, sem ter sido provocado nem distorcido.
“Imagina explicar isso para favelados” disse, ao microfone, na Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), logo depois de ter feito palestra, segundo ele, para “gente preparada”.
Cabe ao candidato explicar suas propostas de forma a que todos entendam, dos super-ricos aos super-pobres. Se os favelados não entendem Ciro, pior para Ciro. Ele tem que se fazer entender.
Se tinha votos nos morros do Rio de Janeiro ou nas favelas de São Paulo e de tantas outras cidades, perdeu-os todos.
Repetiu, vinte anos depois, o erro capital que cometeu ao explicitar, de forma jocosa, o papel da sua mulher na campanha de 2002. Cometeu um cirocídio.
Tanto naquela ocasião, como agora, tentou explicar o inexplicável logo depois. Mas o estrago estava feito. A emenda ficou pior que o soneto. As redes sociais não perdoam. Agora, além de não entenderem Ciro, os favelados vão odiá-lo.
Ciro iniciou, sem querer, a campanha do voto útil em Lula.
Alex Solnik
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais “Porque não deu certo”, “O Cofre do Adhemar”, “A guerra do apagão” e “O domador de sonhos”