AGORA É COM O ELEITORADO

Por Carlos Santiago*

       O período de realização das  convenções partidárias encerrou. As federações, os partidos e as coligações têm até o dia 15 de agosto para solicitarem o registro de seus candidatos e candidatas. Depois, a partir do dia 16, começa a campanha oficial. Agora mais do que nunca, cabe ao eleitorado acompanhar, denunciar, cobrar e refletir sobre a situação da cidade, do estado e do país para votar, objetivando melhorar a política, a gestão pública e defender o interesse coletivo.
No Amazonas, são oito postulantes ao cargo de governador. Duas mulheres e seis homens. Algumas candidaturas são mais competitivas e outras nem tanto, mas todas serão avaliadas pela vontade popular nas urnas.
Wilson Lima é candidato à reeleição, já mostrou força política e uniu no seu palanque vários interesses eleitorais, partidos políticos, prefeitos, os presidentes da Assembleia Legislativa e da Câmara de Manaus, o prefeito de Manaus, além do presidente Bolsonaro. Wilson Lima tem  condições de receber um bom recurso do fundo de campanha e possui um excelente tempo de televisão e de rádio.
Amazonino Mendes conseguiu ser o candidato de uma federação partidária e adesão de outros partidos. Tem um eleitorado cativo. Sempre foi bem votado, mesmo quando não venceu. Recebe apoio do ex-prefeito de Manaus. Ele conquistou  um bom tempo de televisão e de rádio, e será priorizado pelo seu partido na divisão do fundo de campanha.
Eduardo Braga montou uma forte coligação eleitoral com vários partidos de expressão política e, ainda, recebeu o apoio de uma federação de partidos de esquerda. Tem o apoio do ex-presidente Lula. Fez aliança política com prefeitos dos principais colégios eleitorais do interior e com o senador Omar Aziz que busca a reeleição. Ele conseguiu um excelente tempo de televisão e de rádio, além de um significativo fundo eleitoral para fazer campanha.
Ricardo Nicolau montou uma coligação que lhe deu tempo de televisão e de rádio, parcela do fundo de campanha e palanque eleitoral que conta com um ex-prefeito de Manaus e com o vice da chapa do ex-presidente Lula.
Carol Braz manteve a sua candidatura e recebeu apoio da cúpula de seu partido e do candidato a presidência da República, Ciro Gomes. Obteve tempo de televisão e de rádio pra fazer campanha e, pela regra eleitoral, participará dos debates entre os candidatos na televisão e no rádio.
Henrique Oliveira quer voltar ao topo da visibilidade política, com votações consagradoras, conquistou boa composição e tempo de televisão e de rádio; Nair Blair quer se mostrar ao eleitorado;  e o Israel Tuyuka quer ser uma alternativa política com discurso regional amazônico e contra a desigualdade e a favor dos povos indígenas. Israel Tuyuka e Henrique Oliveira, por imposição legal, podem participar dos debates na televisão e no rádio.
Com os candidato (a)s escolhido(a)s e com as regras eleitorais definidas,  cabe ao eleitorado cobrar promessas e soluções, dos antigos e dos novos governantes,  para os crônicos problemas do Amazonas: pobreza, corrupção, violência, péssimos indicadores de saúde e de educação, falta de desenvolvimento econômico no interior e de infraestrutura, como recuperações de estradas, portos e aeroportos.
A realização de eleições livres, definidas no calendário eleitoral são importantes à nação brasileira. Entre outros objetivos, elas servem para consolidar a democracia e renovar a esperança num país bem melhor de se viver.

 

O idiota

Era um indivíduo respeitado. Pelo menos ele acreditava nisso. Orgulhava-se de comandar generais, doutores, professores e tantos outros graduados. Gostava de dizer que era ele quem mandava e que não abria mão de sua vontade. Todos os seus comandados, por mais inteligentes que fossem, quando iam fazer parte de sua equipe, recebiam logo a ordem: aqui quem manda sou eu! E era impressionante como sua equivocada forma de ver o mundo e sua curtíssima inteligência tragava as outras inteligências. Os seus diversos subordinados, todos, sabiam que nas tomadas de decisões daquele ser havia algo de errado, mas sempre que iam lhe falar, eram tomados por um medo e uma timidez paralisantes. Suas formas de agir e de falar refletiam uma personalidade equivocada e truculenta.
Odiava Paulo Freire, Universidades, Ciência, saberes. Os conhecimentos advindos da filosofia, sociologia, antropologia, pedagogia e de todas as demais ciências, para ele, não tinham nenhum valor. Não entendia os motivos desse desejo infinito do ser humano de conhecer, de se libertar pela educação. Não aprendeu e nem lhe foi ensinado a olhar o outro como um universo infinito de possibilidades. Via as relações humanas de forma hierarquizada: eu mando e você obedece.
Quando lia uma notícia de jornal, de revista, ou quando tentava interpretar um fato de uma dada realidade, sempre tinha uma compreensão parcial, equivocada e viciada. Se não extrapolava o que dizia a informação, a reduzia ou a entendia de forma contraditória. Mas, apesar disso, não se intimidava. Quando falava, expressava suas opiniões a todos os seus interlocutores, as quais, muitas vezes, não passavam de um monte de clichês enviesados, uma espécie de verborreia que seu cérebro já carcomido pela ignorância compartilhava como se fossem pérolas.
Sua dificuldade em entender as relações humanas, sociais, geográficas, políticas, econômicas era gritante. Não se sentia confortável com o seu saber. Sua forma de entendimento era compartimentalizada, não conseguindo relacionar os mais fáceis conceitos. Ficava indignado consigo e com o mundo quando ao ler um texto não conseguia compreender as relações sintáticas, semânticas, textuais e intertextuais. E entendia, muito menos, as diversas faces polissêmicas que surgiam das interações entre o texto lido e o texto vivido.
A gramática, a lógica, a métrica, a oratória, enfim, todas as formas da boa comunicação eram, por ele, desprezadas. Jamais lia um livro. Sequer sabia soletrar Shakespeare ou Dostoiévski. Não sabia quem eram Cervantes, Homero, Dante, James Joyce, Borges, Kafka ou Goethe. Nunca leu Machado de Assis, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Lima Barreto, Drummond ou Guimarães Rosa. Jamais folheou um Pablo Neruda, um Camões ou um Fernando Pessoa. Nada lhe era mais estranho do que uma peça de teatro de Brecht. Lia apenas manuais de armas, ficava horas admirando os desenhos.
Esse ser é o representante do maior flagelo social que surge das entranhas de uma sociedade que insiste em não investir em educação, que vira as costas para as escolas primárias, secundárias e universidades, e para o saber e o conhecimento transformador do humano. É ele, o analfabeto funcional, o maior idiota de todos. Um pobre de leitura de mundo, pois não interpreta as questões mais básicas de um texto, e jamais compreenderá as questões mais complexas da vida e do mundo. Falta-lhe inteligência e inteligibilidade para entender a plurissignificação das relações humanas e da vida.

 


Sociólogo, Analista Político e Advogado.

 

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