500 histórias do Brasil

Marcos Vasconcelos (*)

6

Época de Natal, o arquiteto Sérgio Bernardes presenteia o gerente da agência Assembleia do Unibanco com uma competentíssima faca de churrasco. Ano seguinte, época de Natal, Bernardes manda-lhe a vaca. Viva, com um laço de fita no pescoço e um bilhete. A vaca, uma vistosa representante da raça britânica Red Angus, foi entregue na rua da Assembleia, para espanto dos transeuntes.

7

O escritor Raimundo Magalhães Junior, já falecido, acompanhava em Hollywood, anos dourados, as filmagens do triunfal e milionário “As Minas do Rei Salomão”. Na riquíssima fita, entre mil acrobacias cinematográficas, a esplendorosa Deborah Kerr é sequestrada pelos zulus, povo negro africano que, para os padrões norte-americanos, não se dedica a outros afazeres fora da mania de aporrinhar homem branco que se aventura em seu território para brincar de extermínio.

Na falta de crioulo local disponível para tal mister, os produtores do filme contrataram um grupo brasileiro que se exibia nos Estados Unidos com aqueles divertimentos híbridos, uma ciranda misturada de maracatu, moçambique, São Guido, samba, quilombo e provavelmente até uma zarzuela. Pois, bem, o crioléu topou no maior entusiasmo. A comissão técnica então perguntou: vocês falam africano, não é? O grupo em peso respondeu: Quem? Nós? Mas claro! Fluentemente!

O filme deslumbrante passou no Brasil sem nenhum corte, nem no som, nem na imagem. A fala “zulu” da brasileirada, ouvida no país inteiro:

– Muié branca (Tum Tum Tum) xereca boa!

8

Assis Chateaubriand, o legendário homem de Imprensa, estava no Egito acompanhado por sua entourage jornalística: redatores, repórteres, editores e fotógrafos. Na equipe, ainda nem pai do Bruno Barreto e nem tão reluzente como hoje, Luís Carlos Barreto e sua câmara Leica.

Na volta Chateaubriand pediu ao Luís Carlos que lhe arrumasse a mala. O jovem fotógrafo perguntou ao chefe as cuecas usadas para separá-las das limpas.

Instrução do Grande Capitão:

– Cheira, meu filho. Cheira.

9

O empresário cinematográfico Lívio Bruni tem o maior desprezo por fita ligada a movimentos exóticos do tipo nouvelle vague, neo-realismo, cinemanovismo, complicações do nível meio-fim-começo.

Para exemplificar, e provando que ninguém entende mesmo porra nenhuma de cinema, contou:

– Uma vez, no Cine Alvorada, misturei todos os rolos de um filme desses esquisitos, “Ano Passado em Mariembad”, de um tal de Alain Resnais. A crítica delirou, a plateia aplaudiu de pé.

10

Arthur Moreira Lima ciceroneava em Moscou, a pedido de nossa Embaixada, quatro majores brasileiros cuja missão era comprar quatro aviões de fabricação soviética. Feitas as negociações, os militares foram informados que seria necessária a vinda de técnicos da fábrica para instruir os mecânicos da FAB na montagem dos aparelhos no Brasil, já que não podiam vir voando, questões de abastecimento durante a longa viagem, autonomia de voo, impossibilidades técnicas, essas coisas.

Um dos majores, ostentando nosso conhecido e soberano desdém, numa frase resolveu o problema:

– Esquece o motor, pomba! A gente rebaixa o cabeçote e vai em frente!

(*) Marcos Vasconcelos é escritor, arquiteto e contador de causos

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